sábado, 11 de dezembro de 2010

REFLEXOS E REFLEXÕES

Sou eu entre os reflexos - BH 10/12/10


O espelho tal uma lâmina d'água,
Só reflete o que à superfície se apresenta,
A todo momento me indaga do interior,
Quais as imagens terei furtado dele.

Talvez não as tenha retido, enfim,
Quem sabe ainda não as construí.
São tão várias as minhas indagações,
Mil espelhos não poderiam refletir.

Há um vidro inerte para confundir.
Se sou eu do outro lado do espelho,
Diviso-me, tento adivinhar-me,
Mas não me traduzo em gestos,
A imagem não pode reproduzir.

Tamanha inércia faz refletir,
No frio vidro que me espia,
Impassível, sei que espera,
que um gesto meu denuncie,
segredados desejos em mim.
Talvez meus sonhos guardados,
Das histórias que não vivi.

ELUCIDAÇÕES

Piracema - setembro 2010 - foto by Celêdian


Como riacho de águas límpidas, de pedras enlameadas de limo,
Fazendo-se caminho de escorrer e de escorregar – a vida faz-se,
Trilha estreita, alcatifa, com pedras lodosas ocultas, que tropeço,
Às vezes caio, machuca-me a queda, levanto, refaço-me e sigo.

Ainda que cambaleante tal bêbada, com as minhas incoerências,
Vejo na liquidez da água, a efemeridade do tempo e esvaindo-se,
No vão da superfície, esconde das pedras, o mais sutil propósito:
Necessárias pausas, aprendizados para nossa alma bruta lapidar.

No afã de apurar as escolhas, entre meandros, busco onde pisar,
Vislumbro nas pedras lodosas, não obstáculos, tão somente rumos,
Para o meu ser, como água do riacho, fluir mansamente e deixar,
Incidir-se os raios de luz e de reflexos puros, minh’alma iluminar.

sábado, 4 de dezembro de 2010

LABAREDAS

Labaredas - imagem Google
Incendiada a lenha aos poucos,
projetando as altas labaredas,
lambidas pelo vento, dançam,
em seus mágicos movimentos,
produzindo cores vibrantes,
exalando da madeira, os odores,
até que se extinga o fogo
e as brasas morram lentamente,
em pó e flocos cinzentos.

Assisto a vida do fogo atenta
e associo em breve loucura:
ora, paixão é como fogueira!
Ardem os corpos incendiados,
de prazer lambendo a pele,
na dança de todos os ritmos,
com cores nos olhos, brilhantes,
dos corpos, cheiros inebriantes,
até que se extinga o fogo
e as brasas incandescentes,
cedam lugar ao pó e às cinzas,
que se espalham com o vento.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

INGÊNUA ALMA


Jorra adrenalina
Vasos injetados
Na face corada
De natural carmim
Do sangue ejetado
Em puro rubor
Na breve loucura
De sentir no beijo
A prova do amor
Do meu desejo
De ingênua alma
Que espera nua
Em eterna calma
Amar com fúria
E que eu possua
Inteira, a alma tua

sábado, 13 de novembro de 2010

FOZ DO DESEJO


Desce bravia, aos saltos procura o leito
No alvo véu que tece de branca espuma
Oculta quedas, criando especial efeito
Águas em fúria, em beleza se consuma

De saltos altos, ela vem e o ar perfuma
Na face alva, estampa o seu meigo jeito
Camufla os desejos e antes que assuma
A fêmea nua, despe-se do preconceito

Escoando as águas, rumo ao seu destino
Água e fêmea buscando na foz, encontro
Fluem livres, afoitas, em total desatino

Consumado o intento, neste mar de amor
Águas doces misturando-se no todo azul
No peito dele, ela nua, feliz, puro langor

PRANTO POÉTICO



Gotas descendentes rolam pelo rosto
Os lábios sorvem sôfregos do pranto
Tragam do sal forte, o intenso gosto
Água das dores, do cruel desencanto

Na face escorrem do choro exposto
Os olhos que falam, imitando um canto
Suave como mel, de doce composto
Água de amores, do sutil encanto

Do amor, alegria, dor ou desgosto
As lágrimas que fluem, são no entanto
Águas que vazam da alma, o seu posto

De um triste pranto faço acalanto
Das gotas ardentes, um fogo suposto
Lágrimas de poesia n’alma planto

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O POETA E OS IPÊS


Piracema - MG - agosto de 2010 - foto by Celêdian

Quisera eu compreender a beleza dos ipês amarelos,
que ousam colorir o agosto sem esperar a primavera.
Nas matas, solitários e belos, assistem ao meu olhar,
inebriado, enfeitiçado, sem entender-lhes o propósito.

Ostentando os encantos, ainda que presos às raízes,
sorvendo seiva do solo bruto, alçando galhos ao alto,
será que sonham levar as suas flores ao firmamento,
antes que elas murchem e caiam atapetando o chão?
Será que antecipam a sua chegada, antes das outras
belas, no afã de enfeitar as agruras secas de agosto?
Ou florescem mais cedo para ver perdurar seu sonho?

Triste sina a dos ipês, se jamais eles tocarão o céu,
é como sina de poeta, colorem de poesia, os sonhos,
antes que eles esmaeçam, trazendo triste desilusão.
Em versos brancos traça rumos, rotas de esperança,
cismando, busca entre estrelas o brilho do amor real,
fantasiando e sublimando as dores dos amores vãos.
Triste sina, jamais tocará as estrelas preso ao chão.

terça-feira, 18 de maio de 2010

AMBIGUIDADE NO ESPELHO

- Meus olhos fixos no espelho...
Impassível, muda, do lado de lá,
a figura emoldurada me espreita.
Contemplo-a com olhos piedosos,
as marcas surradas de um tempo,
impiedoso, nas linhas que traçou.

De cá, eu miro atenta o teu olhar,
não vejo dor, amargura marcada,
nem tristeza grudada nas retinas,
apenas vislumbro a tua saudade.
Perscruto e tento ouvir-te na voz,
ou uma nota, murmúrio ou som,
denúncias, brados, ou até gritos,
continuas só a sondar-me calada.

Percorro-te na face os contornos,
cismo, ensaio querer provocar-te,
esboço alguns sorrisos maliciosos,
retribuis logo, com gestos iguais,
simultaneamente idêntica a mim,
ainda que invertida, és uma ilusão.

Quem és tu? Oh estranha imagem!
Zombas de mim, fazendo escárnio?
Ledo seu engano, não me assustas.
És matéria, ocupas lugar no espaço.
Jamais serás meu real e fiel reflexo.
A luz de minh’alma trai-te, a ofusca,
projeta-se e reflete dentro de mim.

De cá, quedo-me surda ao teu apelo,
apenas reavaliando o teu semblante.
Entendo-te agora, dos sinais na face,
marcados a força pela tua existência,
não afligem, nem torturam a vaidade,
São veleidades, só desejos efêmeros.
Nesta ambiguidade de meras imagens,
de corpo e alma, me espelho.

Celêdian Assis
28/04/10

OUÇO ESTRELAS

Navegam luzes no azul do céu
Sem leme no mar de firmamento
Firmam o brilho ao acaso, ao léu
Negligenciando o escurecimento
Nas minhas retinas, impregnado
Capto-lhes atônita, toda magia
Confidenciam-me segredo calado
Os olhos meus revelam a fantasia
Dos sorrisos estelares camuflados
Sondo-lhes os murmúrios mudos
Movimentos de lábios, inventados
Iludem-me seus ouvidos surdos
Que ouvem atentos o meu canto
Do fascínio contido no meu peito
De amor, perdida no puro encanto
Da beleza das estrelas que espreito
Ouço-lhes tudo em meus devaneios
Vejo-as multicoloridas e de prata
Revejo nos seus artifícios e meios
Uma razão, uma resposta sensata
Porque me inspiram cumplicidade,
Quando o amor inunda minh’alma
Há entre estrelas e amor, afinidade
Se elas falam-me dele com calma
Quando as procuro encantada
Para confiar-lhes o meu segredo
Tenho de amor a alma domada.

BH, 15/05/10

ESTAÇÕES DA SOLIDÃO

Ruas já quase desertas
As árvores nuas, descrentes
É noite, os olhos úmidos
No quarto, a cama comporta
O corpo tal como folhas mortas
Espalhadas inertes pelo chão
Pálidas, rugosas, amarelecidas
Ele está vivo, não morre
Sonha que chegue o outono
Da sua renovação

Ruas desertas, assustadoras
Ventos sibilantes, cortantes
É noite e há névoa nos olhos
No quarto jaz numa cama fria
Um corpo só, debaixo do calor
Emanado apenas do cobertor
Ele não está morto, e, vivo
Sonha que finda o inverno
Da sua solidão

Ruas alegres, inundadas de luz
Temperatura amena, frescor
É noite, tênue luz nos olhos
No quarto, a cama como tapete
O corpo se anima com as flores
Cobrindo-lhe tal um jardim
Exalando perfumes de cravos
Ele não está morto, e, vivo
Sonha que chegue a primavera
Com cores e odores de vida

Ruas fervilhando de gente
Calor que espanta o sono
É noite, os olhos brilhantes
No quarto, na cama o corpo nu
O corpo quente, quase febril
Queimando as entranhas
Exaurindo de desejo sem fim
Ele está vivo, não morre
Sonha que chegue o verão
Que aqueça a sua esperança

Murcham as folhas de outono
Orvalham-nas o frio inverno
Enquanto esperam as flores
Que nascem na primavera
E chega o calor do verão
Na solidão de cada estação
Refaz-se a esperança
Da vida em renovação

BH 18/05/10

SIMPLICIDADE E PERFEIÇÃO

Acordo, preguiça domingueira,
abro a velha janela de madeira,
deixo adentrar a luz do sol,
desta manhã fria outonal.
Ignorando a estação,
surpreendentemente florida,
a malva rosa no quintal.
Não bastasse esta visão,
pousado no galho, garboso,
um negro e belo tucano,
de bico colorido sem igual.
Olhou-me inquieto,
alçou um rápido voo,
para o verde bambuzal,
coberto de azul céu.
Longe vigia a montanha,
a simplicidade na mistura,
das cores da liberdade,
beleza tão natural.
Sorrindo, feliz eu penso,
a vida é a arte da perfeição.

Piracema, 16/05/10

quarta-feira, 14 de abril de 2010

DO ÍNFIMO AO SUMO

No início uma compacta massa,
Não lhe conheciam o cerne.
Aos poucos descobrindo-lhe,
Via-se a massa preenchida,
De espalhadas cruzes positivas,
Envolvidas pelas negativas.
Vislumbra-se agora o núcleo,
A acercar-lhe, o negativo,
Girando em seu entorno,
Como planetas em torno do sol.
Formam nuvens em camadas,
Em órbitas circulares e concêntricas,
Dual natureza, nem estático, nem fixo,
Provavelmente se encontra,
Onde possa achar o seu par.

Sou assim feito o átomo,
Descoberta pouco a pouco,
Evoluo da massa bruta,
Enquanto não apuro o núcleo,
Já percebo o complemento,
Na positividade esparsa,
Com negativo envolvimento.
Vislumbro agora o cerne,
A negatividade a rondar-lhe,
Fazendo cirandas a sua volta,
Como planetas, invejados do sol,
Acercando-lhe desejosos,
De sua luz e calor roubar.
São nimbos, tristeza e desamor,
Dispostas nas camadas de dor,
Nas órbitas circulares,
Que rondam a minha mente,
Concentricamente.
Na dualidade da natureza,
Um ser não é só mente,
Tem alma de complemento,
Repleta de sentimento,
Não deixa estática a vida,
Nem a fixa em lugar algum,
Provavelmente a alma se encontra,
Onde uma outra se esconde,
Perdida e clemente de seu amor.

RETRATO DA ALMA

Como espectro se desenham
Sombras frias entranhadas
Da meia luz que ilumina
Metade de um lado obscuro
E na outra clara metade
Brilho que às vezes ofusca
Ou ilumina o melhor de mim

Imagens projetam idéias
Pensamentos refratam ações
Espelham íntimas ânsias
Em devaneios e reflexões
São ondas que perpassam
Confusos feixes de raios
Distorcem imagens
Na parte opaca de mim

Na outra iluminada metade
A luz se propaga em ondas
Para abissais labirintos
Via das minhas entranhas
Abstrato, ninho subjetivo
Abjuro o abjeto abismo
Redundante instropecto
Deste agônico solilóquio

Resgato-me na superfície
Na ruptura da interna rusga
Desenham outros espectros
Do concreto que me acerca
No objeto inacessível
Do circunlóquio que fiz.

VIRTUAL(MENTE)



Ele navega no meio virtual
Sabe-se lá se procura
Ou se vagueia alheio
Entre perfis, rostos, máscaras...
Um “click”
Ei-la que surge do acaso
E um homem surge do nada
Confessa-se impressionado
Ela se encanta, agradece
Textos, imagens, palavras
Pronto, tudo se transforma
Qual força tem as palavras
Feitiço, magia, fascinação
Do fascínio ao êxtase
Desperta a mulher de sono profundo
Pela mão do homem, mansa, sutil
Sem rumores, sem ruídos
Oferta-lhe abraços, flores e estrelas
Que mais tarde transformam-se
Em mais abraços, jardins e galáxias
Até que chega um beijo
Com muito carinho e respeito
Eis que vem a poesia
Desencadeia a ânsia de sentir
Da “presença” ausente se ter
Cheiro, calor, amor, sabor
Inebria os sentidos, falta ar
Entorpece o corpo, magia
Incendiado, incendia e faz jorrar
Gentilezas, sutilezas sem promessas
Nas palavras caladas, guardadas
De quem sabe um dia ao meu ouvido
Sussurar...antes um poema
Depois quem sabe... gritar
Aquecendo-me no teu vibrar
Ardendo em mim o teu calor
Pelos beijos descendentes
Pelas mãos sem pudor
Pelos corpos em erupção
Em versos, ouço o que lhe gritava a alma:
“...quero que sejas profundamente minha e ritual
obsessiva e lúcida, doente, febril, tremendo de desejo
disposta a tudo e a mais e a muito mais,
boca de Mundo, seios de Mármore, corpo de Alfazema
e sobretudo Mulher e sobretudo amante.
Se existires assim, nua, inteira, absoluta e pessoal
responde-me que eu fico aqui, eterno, à tua espera.”
Respondo ao grito, existo sim e assim
Apetece-me ser desbravada
Como a abrir caminhos em mim
Nas minhas entranhas acolher
Deixar fluir leite da fêmea
O mel da mulher mansa e calma
A água da fonte do louco prazer
Desejo ávido, que acredito
Apetece a ti e a mim.

sexta-feira, 26 de março de 2010

MISTÉRIO DOCE

Gosto do gosto que vem oculto

Na magia mágica escondida

No gosto misterioso e fruto,

Do mágico mistério da vida.


Digo gosto, é pois porque me encanto

De encantamento, me deleito

Surpresas, o novo, o velho, espanto

Fundo calam dentro do peito.


Revela-se a vida, na noite, no dia

A cada hora, naturalmente

Assim como doce poesia.


Um paradoxo de doce e amargor

Na fé que move, fel se torna mel

Lambuza a alma, chama-se agora, amor.

SEGREDOS CALADOS

Não perguntarei coisas que não saibas,
Nem tampouco sobre coisas que não creias.
Não perguntarei sobre o tênue fio ligante,
Da lúcida consciência e a consciente loucura,
Tão íntimas, que de ti fazem teu próprio rei.

Não perguntarei sobre a tua sapiência,
Nem tampouco se importa o teu saber.
Da tua sabedoria, só o que interessa,
Se és sábio, se buscas sempre entender,
Onde habita a parte mais simples de ti.

Não perguntarei sobre o rio que nasce,
Que às vezes escorre dentro de ti,
Nem tampouco por onde deságuam as águas,
As calmas ou as caudalosas que escoam,
Ou ora represam-se dentro de ti.
Do rio, da água que corre, só o que interessa,
Que a ti, ora irrigam, ora inudam,
Trazem o feitio, tão próprios de si.

Não perguntarei do que vem do teu âmago,
Do imerso que subitamente emerge,
Do leitor do mundo à tua volta,
Tampouco do teu próprio mundo interior,
Que livre, lês, interpretas como bem entender.
Nem se por vezes esta “leitura” do mundo,
Indigna-te tanto, se te rebelas e gritas,
Mesmo que, nem sempre teu grito se faça ouvir,
Neste tão surdo mundo, às vezes cego,
Que não escuta e não vê a tua ânsia ousada,
Tomando o lugar da tua simplicidade.


Não perguntarei onde nasce o teu sol,
Se o calor que emana dele ainda te aquece.
Se será fértil a terra, quando vier a chuva,
Nem tampouco se o céu que te cobre,
De azul ainda colore o ar e deixa voar a ave.
Se a terra lavrada e molhada por chuva,
É teu deserto ou teu solo fecundo.

Não me suponhas farta e contentada,
Sem perguntar e da resposta ignorada.
Néscio! Ainda resta-me muita ambição.
Perscrutar tua alma, entender teu coração,
Guardar teus segredos e torná-los meus,
O céu e a terra como eternos cúmplices.

MEMÓRIAS E QUIMERAS



Acontece no mundo dos sentimentos

O coração parece querer sair pela boca

Lembranças, inesquecíveis momentos

Restam dos beijos, o gosto

Da pele e do pelo, a textura

Das palavras doces, o som

Do encontro dos corpos, o aroma

Misturam-se prazer e saudade

Das memórias que tenho de ti

Minha mente esforça-se, endoidece

Meu corpo clama pelo teu em chamas

Minha ternura floresce, a alma enternece

Das tantas carícias, tão doces, sutis

Mulher, fêmea, menina, em todas, amante

Emoções sacadas das entranhas

Dormentes, hibernantes, esquecidas

De súbito emergem, paixão, explosão

Ai que saudades do que tive!

Tão bem na memória guardo a ti.

Sonhos, realidade, hoje de novo quimeras

Amadurecidas ideas de ti e de mim

Não fazem sofrer, antes, acariciam

Dois corações, cientes de si

Aconchegam-se, se enlaçam

No terno abraço, num doce beijo

Das memórias que guardaremos

Eternamente...

Eu de tu e tu de mim.

quarta-feira, 17 de março de 2010

PERCURSO DO BEIJO

Beijo-te os olhos cerrados
Uma brisa quente que te afaga,
Minha respiração ofegante,
Minha face tão perto da tua,
Pousam suaves em teus lábios, os meus,
E no impulso que a alma instiga,
Os lábios se abraçam e se sugam,
Sofregamente, se embriagam,
Do néctar do hálito teu,
Do mel do desejo meu,
Sabores do beijo molhado,
Misturam-se no ápice da loucura,
Desencadeiam outros loucos beijos,
Percorrendo o mapa que te desenha,
Enquanto sondas cada canto do meu.
Inebriantes perfumes exalam,
Suaves músicas entoam,
Sibilos arfantes, gemidos e ais,
Calores intensos ardem a pele,
Culminam em suores e seiva,
Do cume dos prazeres insanos,
Extasiados os corpos desfalecem,
Mergulhados na breve inércia
Inerente ao pós deleite do amor.
Após breve descanso, outro beijo,
Feito de carícia, ternura e afeto,
Relaxa e embala o sono,
Deixa a certeza e o desejo,
Serão muitas noites de amor

NOITES COM LUA

Falta a luz da lua na noite escura
Privada do seu brilho, é longa a noite
Cada minuto parece infinito
Na eterna espera que amedronta
Medo da sombra que desaparece
Que teima esconder teu másculo corpo
Que tira de mim a tua imagem
Que teimo em querer tatear
Para sentir passo a passo
O contorno de todas as linhas
Na provocação do meu toque
Sentir nascer cada ressalto
Viro-me na cama, no travesseiro
Procuro o que a lua ausente me oculta
O vazio é nada, é silêncio e escuridão
É dor, é ausência que se sente
É como noite sem lua, a solidão.
Quero, um luar todo e só meu
Que seu clarão faça da minha sombra
A imagem desenhada do seu sonho
E com seu brilho projetar a sua
Que nos meus sonhos arquiteto
A noite com luminosidade, é sonho
É afeto que faz sorrir, carinho que abriga
É paz, serenidade que me dá segurança
É ninho, lar do meu aconchego
Onde me aninho, resido e desejo
Quero só noites com lua, com calor
Quero um luar nas minhas noites
Quero mãos que afaguem a minha face
Quero singeleza e afeto, toda ternura
Quero carinho puro, no riso e na dor
Minhas mãos ao alcance das suas
Entrelaçadas num gesto ingênuo
E no calor que elas emanam
Incendiar os corpos que clamam
Por labaredas de intensas chamas
Que fazem arder os desejos
Quando preciso apenas de amor
Quero que seja minha lua
Vagando na minha noite
Não faças rotação ou translação
Nunca deixe escuro, nenhum lado de mim
Faça como o sol, ilumina-me
E então viveremos de luz
A noite que é vida e a lua o amor.

sexta-feira, 5 de março de 2010

CALOR DO ABRAÇO

Braços que se estendem
Se curvam e cingem
Do peito se acercam
E os corpos se fundem

Do aconchego e calor que ofertam
Os abraços fraternos, amigos, amantes
E no sublime prazer que despertam
São belos e únicos momentos marcantes

É no abraço amigo que se encontra
Um porto, de alegria e de desalentos
O riso garante, para lágrimas, cura pronta
Na simbiose perfeita dos sentimentos

No elo que ata o amor à compreensão
Abraço fraterno é solidariedade
Afeto doado em um aperto de mão
Caminho tão certo para a felicidade

No frêmito que faz arder o desejo
Os corpos chamam ardentemente
Abraço amante, doce ensejo
De possuir e amar loucamente

Nas dores regadas de pranto
Nas alegrias ornadas de amor
O abraço é essencial acalanto
Ternura, afeto, exalando calor

Ai...ai! Que delícias de abraços
Suscitam na alma, a calmaria
Sustentam e estreitam os laços
Sem abraços tão fortes, morreria!

Piracema, 28 de fevereiro de 2010
Celêdian Assis

LÚCIDA LOUCURA

Que fazem ali os seres em par
Que nunca se viram, oxalá se verão
Afinidade do encontro exala no ar
Num momento de encanto amam se amar
Tamanha loucura e de tal dimensão
Entre os lábios no beijo, o oceano
Fantasia a alma, desejos do coração
De súbito a ausência, louco, insano!
Calor que aumenta, cresce a loucura
Dos corpos distantes, emanados
Fluidos de amor, ais com ternura
Agora tão perto, assim abraçados
Brisa morna chega como toque sutil
Toca a face e nos olhos cerrados
Respira ofegante, torna febril
Freneticamente desrritimados
Sorrisos tão meigos mostram desejos
Atravessam o espaço, esquece a distância
Do chocolate o gôsto, na delícia dos beijos
No vermelho eclode paixão, o êxtase, a ânsia
Muito além, arde em chamas um olhar
Da face da terra nada se avista
Os mares nunca antes navegados
Agitam-se em fúria, na loucura de amar
E na louca lucidez do momento
Onde estás que não te vejo?
Breve um lúcido tormento
Acorda, é sonho, é só desejo!
Celêdian Assis

quinta-feira, 4 de março de 2010

MUITO PRAZER!

Eu, você e eles, somos nós,
Que nunca estamos sós,
Que fazemos da alegria e do júbilo, oração,
Motivo maior de nossa canção.
Desfazemos a tristeza, desatando nós
E na poesia encontramos a redenção

As palavras fluem como ornamentos
Enfeitando com arte até o obscuro,
O núcleo do ínfimo,
Das profundezas do ser, em sentimentos
Que gritam ou calam em nosso íntimo,
Desabafos sinceros por sobre o muro.

Sacadas do fundo, afloram-se percepções,
As mais autênticas sensações.
Inspiradas na fonte inesgotável e profunda,
Transformando em hinos da alma, ou belas canções,
A dor ou o amor que transborda e inunda,
Por sobre todas as sanções.

Entre fascínio e êxtase, delírios da emoção,
Inspirados na incansável vastidão,
Em versos ou prosas, brotam eloquentes,
Das malhas finas tecidas entre a loucura e razão,
As fantasias da mente, dos sonhos dormentes,
Dos desejos mais que arguentes.

Encanta a quem vê com olhos atentos,
Com sentidos sedentos,
O fruto da fonte que nos aguça a percepção,
Que flui envolto em certa devoção,
Sendo a cura dos males da alma e dos desalentos
Que busca tocar com leveza e magia, o coração.

Alegra-nos não só o reconhecimento.
Como a identificação,
Bem como a reação,
Da arte que alimenta mais que pão
Que faz querer derrotar o dragão
E sair espalhando nosso sentimento

Somo assim:
Abusados,
Alterados,
Por vezes, transtornados,
Outras, embasbacados...
Somos a um só tempo múltiplos
E únicos!
Engajados,
Revoltados.
Tão noturnos,
Quanto diurnos.
Somos pretensamente despretensiosos
Evolutivamente ambiciosos:
Evangélicos,
Esotéricos,
Judeus,
Ateus,
Cristãos,
Pagãos,
Muçulmanos,
Presbiterianos,
Espiritualistas,
Ocultistas,
Maçons,
Ah! Como são singelos nossos sons...

Somos movidos a paixões.
Somos cônscios dos nossos desvãos,
Das nossas carências,
Das nossas adjacências...

Um pouco incertos,
Somos extremamente modestos...
Diletantes!
Ah! somos apaixonantes...!

Acreditamos no poder máximo,
Ávido,
Do inconfundível ardor,
Que vem do Amor...

Tanto tradicionalistas,
Quanto vanguardistas,
Somos cria da matéria prima da tarde.
Do bom que arde.

Da arte!

Escrevemos para encontrar sentido
E, principalmente para continuarmos vivos,
Ativos
E com um necessário brilho.

Queremos não só desabafar,
Encantar,
Protestar...
Queremos fazer desabar,
Tudo o que impede a evolução de raiar.
Queremos ver a humanidade despertar,
Para poder despontar,
Frutificar
E florescer.
Queremos enternecer!

Somos mais que abolicionistas,
Somos Recantistas!


Celêdian Assis & Cláudio Santos


NOTA: Recantistas são os poetas e escritores do site Recanto das Letras.





quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

FACE DE MULHER

Conta-lhe o tempo (sem sentido),
as suas amarguras, suas cicatrizes.
Ainda que lindo, o sorriso contido,
confia e espera, por dias felizes...

Transita, pela nudez da inocência,
do tempo, por uma nudez madura...
Pela face, estampa dessa existência,
já desenhadas pelo fogo e candura.

Torrentes de lágrimas pelas noites,
roubaram-lhe a alegria, seu encanto,
dessa face de mulher, em açoites...

Essência que perturba, ora fascina,
se recolhe, ao recobrir-se, pelo manto
do amor, sua ânsia intensa. Sua sina...

Celêdian Assis & Oswaldo Genofre

http://recantodasletras.uol.com.br/autores/celedian

http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=67489

domingo, 21 de fevereiro de 2010

QUARTETO EM FASES

Um dia menina, airosa e NOVA
Encheu-se de sonhos, mesclados
Sonhos do futuro, sonhados
De inocência a toda prova

Outro dia, ainda menina, CRESCENTE
Dias comuns, dias de glória
Toma de súbito a memória
O primeiro beijo ainda ardente

Passa tempo, vem assim, MINGUANTE
Memória, beijo, sonho, inocência...
A velha rotina se instala adiante
Em novos dias de eterna paciência

Não tarda e toma rumo a vida, CHEIA
A esperança tece a sobrevida
Nunca o tempo a tornara perdida
Nem a vida que o tempo permeia

Nova, crescente, minguante ou cheia
Sonhos sonhados, sonhos vividos
Vida vivida, vida sonhada, tempos idos
Tudo se emaranha na grande teia

Das fases da vida às fases da lua
Falta o sol com seu encanto
Onde estão as estrelas, em qual canto
Na imensidão do céu, na alma nua

E se no eclipse ou no crepúsculo
Crescer a sombra, ou a luz minguar
Ainda assim é novo, maiúsculo
O sonho, eternamente a se renovar

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

SONHO ALHEIO

http://www.girafamania.com.br/passaro/cuiaba-ema1.jpg



A ave gigante dispara

Numa garbosa correria

Atrai um olhar atento

A Ema não está só

Traz consigo a menina

Montada serenamente

Observa encantado o homem

A imagem do seu sonho

Da calmaria, da paz, do sossego

Tenta chamá-la para perto

Atraindo-a com a força

De um desejo contido

Vem a ema e a menina

Aproximam-se, quase ao alcance

E de súbito, se ausentam

A ema alça um vôo tão alto

Levando para longe a menina

Enquanto corria ao longe

Era real, mas de sobressalto

Quando voa a ema tão perto

Vem a verdade à tona

Que as emas não voam

É sonho, apenas assalto

Na mente, desejo que inverto

A menina que voa ao longe

Apenas seria uma outra

Que em meu coração exalto.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

AUSÊNCIA

Igreja de São Francisco - Pampulha- Belo Horizonte


AUSÊNCIA

Sinto falta, desejo, saudade da tua "presença"

Sinto alegria, felicidade, calma, doces lembranças de ti

Sinto ausência do fogo, da chama a nos consumir

Sinto presente o encanto, latente, eterno, sempre a fluir

Sinto apenas que quero e preciso de ti


Então porquê me ausento e me privo de ti?

Então porquê te ausentas e não te dá a mim?


De mim eu sei, o tempo, atropelos,

A luta da lida, necessidades, consequências,

Mudanças nos rumos pela ordem de sobreviver
Sinto que a vida passa e esvai-se o tempo
E aumenta a saudade na ausência de ti


De ti eu não sei, quisera tanto saber.



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

SORRISO MENINO


Dentro bate no peito o coração carente,
Pede uma esmolinha, até leiloa
Com simplicidade, parecendo uma coisa atoa
Ledo engano é um coração ardente

Coração menino tem esperança
As linhas do homem, o destino vem e traça
A inquietude, uma dor que não passa
Da alma do poeta, quieta e mansa

Pouco sorri, mas ingenuamente
Sorri como quem é feliz por pouco
Desnudando sua alma suavemente

Descreve a dor como descreve um canto
Sutileza, entre rosas, ipês, existência e quimeras
O sorriso menino é um doce encanto.

Primavera de 2007

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PREFÁCIO



A arte de declamar, a arte de recitar que embalava os doces devaneios de uma menina, não esmaecera com o tempo, apenas adormecera em profundo sono, num tempo rude que suga a vida e que dela rouba a alma. Não pudera o tempo ido desencantar-lhe, nem as mazelas lhe findaram o que tinha no íntimo. Na insustentável sofreguidão do ser, busca incansável a sua maneira de ser, a sua maneira de estar no mundo, em consonância com sua essência.
Lembra-me com saudade, subir ao palco e cheia de graça e uma incontida emoção, desfilando em versos a mais pura forma de homenagear, que fazia inundar de lágrimas os olhos daqueles que viam naquela arte, a mais pura forma de demonstrar amor.
E a menina cresceu e lá se vão muitos anos passados. Não mais subiu em palcos e nem sequer mais recitou, mas lá estava ainda adormecido o gosto bom de gostar, de ver estampado em versos, na expressão da poesia, as inquietudes, anseios, amores, paixões, alegrias e tristezas do ser.
Quanto mudou o mundo, quanto as pessoas se distanciaram, quanta modernidade. O mundo que era real destoa da realidade. Não mais se encantam com a poesia, quanto outrora, com a mesma fidelidade de sentir a intensidade dos sentimentos. Mas a menina de outrora ainda se emociona ao ver que ainda sobraram aqueles que não sucumbiram ao tempo. Ainda se emociona quando no mundo virtual ou real, depara-se com as poesias que povoaram a sua alma e sua mente na infância.

“Negro com os olhos em brasa,
bom fiel e brincalhão,
era a alegria da casa,
o corajoso Plutão.”

Desde as mais ingênuas às mais requintadas em estilo, todas as que eu conhecera, ficaram para sempre na memória, como a instigá-la, como a despertá-la da inércia contida no sono comprido. Não me bastara a memória apenas, foi preciso ouvir de um doce amigo e grande poeta, dono de um sorriso menino, que a julgara desertora das trevas da literatura:

“Tira a santidade do teu véu, mostra-me os olhos e deixa transparecer mais sorrisos de mãe, de mulher, de poeta e de amor recôndito dentro do teu ser.”

Eis que assim, ressurge em versos tudo que o tempo sugou.
Belo Horizonte, 16 de outubro de 2007

RESSURGE




Qual dom, qual tom imprimira
Em versos, quartetos e tercetos,
Imitando a arte dos sonetos,
Ressurreição conseguira

Como a Fênix, das cinzas renascida
Do recôndito de seu ser, acorda a alma
Da mulher, da mãe, da eterna calma
Por tempo dormente, esquecida

Ei-la que surge, tímida e lentamente...
Das trevas da literatura, despertada
A luz de um poeta inspirou-lhe a mente

Do ego saciado, pelo elogio
Da lembrança dos tempos idos
Veio o poeta, acendeu-lhe o pavio.