Machado de Assis - Imagem Google
A 21 de junho de 1839 nascia Machado de Assis, para se tornar posteriormente o gênio da literatura brasileira e eternizar-se na memória de nossa cultura. Rendo-lhe a minha simples homenagem, longe de qualquer pretensão de chegar pelo menos aos pés do que ele representa para mim: o maior escritor e poeta de todos os tempos. De seu belíssimo soneto Círculo Vicioso, em versos alexandrinos, faço em versos bárbaros e sem maiores técnicas, uma inversão da inveja e do ciúme entre estrelas, sol, lua e vagalume, na minha própria inveja da poesia de Machado.
REVERSO
(Por Celêdian Assis)
CÍRCULO VICIOSO
MACHADO DE ASSIS
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume
:
— Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme :
— Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume :
— Mísera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rútila capela :
— Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?
— Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme :
— Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume :
— Mísera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rútila capela :
— Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?
REVERSO
(Por Celêdian Assis)
Vagam sós, com seus lumes em etérea altura,
as estrelas, recolhidas no azul escuro e tépido
não clamam solidão, ou outra suposta agrura
nem ciúmes ou inveja, da lua, de brilho lépido
D’outro canto as espreita a lua - e murmura:
- Estrelas são como vagas, no celeste mar trépido
nas noites escuras, alumia-no de formosura,
assim como o sol, ao dia, como fogo intrépido.
Eis que surge a aurora e a luz do sol captura
que faz vagar seus raios quentes, em séquito
aos lumes da lua, que na noite se enclausura
Do ciúme, entre estrelas, lua e sol, implícito
Da inveja d’um vagulume em poesia pura
Inverto vicioso círculo em amor explícito.
Texto-fonte: Círculo Vicioso
Obra Completa, Machado de Assis, vol. III,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Publicado originalmente em Poesias Completas, Rio de Janeiro: Garnier, 1901.